quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Uruguai

Cheguei a Montevidéu por volta das seis da manhã e fiquei na rodoviária até ficar claro. Quando comecei a pedalar em Montevidéu não tinha ninguém na rua e eu podia pedalar no meio das avenidas da cidade pois em outro horário seria impossível; eram todas para mim. Pedalei bastante na cidade e na beira mar onde tinha muita gente correndo e caminhando. Um lugar muito bonito e planejado.
Finalmente podia sentir o calor. A temperatura estava agradável e o sol dava uma sensação de mais calor do que realmente estava fazendo. Neste dia pedalei 82 km, sendo que, 35 km foram na cidade e o restante entre: a beira mar, praia e rodovia. Dormi em Atlântida, uma cidade bonita a beira mar. Nesta noite dormi em uma cabana que é usada por turistas no verão mas que nesta época estava fechada. Quem conseguiu este lugar para mim, foram uns alunos da universidade, que conheciam o dono. Foram ótimos!


No outro dia pedalei até San Luís. Já na saída encontrei dois brasileiros pedalando pela costa Uruguaia. Conversamos um pouco e partimos. Pedalamos juntos alguns minutos e depois segui meu ritmo. Esta noite dormi em um camping. Como tinha pedalado pouco resolvi dar uma caminhada na praia e encontrei uns pescadores tentando capturar uma lontra que estava perdida no mar. Segundo o pescador, a mesma foi arrastada pela correnteza do rio e, caso ficasse no mar, iria morrer, pois a lontra é de água doce. Não sei como essa historia acabou, mas, espero que conseguiram tirá-la do mar. Fui até o mercado comprei comida, água e voltei para o camping.
Saí cedo e em poucas horas já estava em Punta Del Este. Mais uma cidade bonita e organizada! Na verdade até aqui o litoral Uruguaio superou as minhas expectativas. Esta noite dormi em um albergue. Aqui tudo é caro e foi a opção mais barata que encontrei. Caminhei mais de duas horas por uma empanada de marisco e não encontrei. Como eu queria uma empanada! Vocês não tem idéia de como são boas! Quando voltava da caminhada vi alguns lobos marinhos no porto. São lindos!
No dia seguinte estava chovendo e mesmo assim saí. Coloquei a capa de chuva nos alforges e fui. Não deu cinco minutos e eu já estava molhado, então resolvi pedalar sem parar para descansar; apenas paradas rápidas para comer algum alimento e beber água. Cheguei a La Pedreira por volta das 15h com muito frio. Parei em uma pensão e assisti o fantástico, pois,aqui já tem canais brasileiros e foi muito bom ouvir português. No dia seguinte continuava a chover, então vesti a roupa do dia anterior que continuava molhada e pedalei até o Chuy.

Procurei saber a previsão do tempo. Também mandei lavar minha roupa e comer um arroz com feijão. Fiquei dois dias em Chuy; tempo suficiente para explorar o lugar, minha roupa secar e o clima melhorar.
É bom estar no Brasil! Agora estou perto, só falta atravessar o Rio Grande do Sul e parte do território catarinense.
Abraços

domingo, 12 de setembro de 2010

Uruguai

Tomei aquele banho em San Juan do Rosário e depois dormi muito. Acho que não existe nada melhor que depois de alguns dias sem tomar banho, reencontrar água quente e uma boa cama. No outro dia acordei um pouco tarde, saí por volta das 10h com destino a um povoado distante de água e de tudo. Por volta do km 65 quebrou o aro trazeiro da bike; acredito que o mecânico apertou muito os raios e a pressão estourou o aro. Eu estava no meio do deserto, aproximadamente uns 30km do povoado mais próximo e uns 50km da divisa com o território Chileno. Fiquei esperando por quase 5h por uma carona, até que passou uma S10 que iria até Calaman, a primeira cidade no território Chileno. Não pensei duas vezes e embarquei nessa.

Ele me deixou a uns 5 km do centro e o restante fui empurrando. Achei uma oficina de bike, deixei a bicicleta e fui até a igreja pedir abrigo. Conversando com o bispo, ele disse que não teria lugar pra eu ficar na igreja, mas, que na casa das freiras haveria sim. Não é exatamente na casa das freiras, mas sim em uma área de eventos que tem alguns quartos para visitas. Beleza! Consegui uma autorização com o bispo para um dia e mais tarde, depois de uma conversa com as freiras, mais um dia. Me receberam muito bem! Ganhei comida, um pouco de chocolate e folhas de coca para a viagem.


Depois de dois dias em Calama fui para San Pedro de Atacama. Foi o dia mais perigoso da viagem para pedalar. A estrada era ótima, não tinha muita subida, mas, um vento muito forte e eu não conseguia manter a bike no acostamento. Repentinamente vinha um vento lateral, me levava para o meio da estrada e as vezes até o acostamento do outro lado que me obrigava a parar. Bom era quando o vento soprava a favor e eu podia viajar sem pedalar. Teve uma reta que fiquei por uns 15min só sentado sem pedalar, não podendo seguir viagem. O vento realmente era forte e foi difícil ficar parado.
Chegando em San Pedro de Atacama, parei para conversar com um caminhoneiro e lhe falei que havia perdido meus óculos a alguns dias e o vento com areia dificultavam a minha visão. Sem falar nada ele entrou na cabine do caminhão e voltou com seus óculos na mão e me disse: - Este é um presente para você. Que gentileza, não vou esquecer o que esse motorista fez por mim.


Passei mais dois dias aqui em San Pedro de Atacama e encontrei uma galera legal na pousada. É um lugar bem alternativo; as pessoas usam muito a bike como meio de transporte e parecem ter uma vida muito simples e feliz. A noite saí com a galera da pousada, fomos ouvir e apreciar música típica chilena e tomar vinho. Saindo de Atacama eu só pensava em uma carona até Calama, para não precisar encarar o vento de alguns dias atrás, só que dessa vez contra, o que dificultava ainda mais a viagem. Não deu outra, um cidadão atendeu meu pedido e me levou até uns 35 km depois de Calama. Em seguida pedalei mais 101km até Antofagasta. Muita descida o que facilitou o percurso desse trajeto.
Eu pensei muito em relação ao caminho de volta para casa. Conversei com alguns argentinos e recomendaram não passar pelo norte da Argentina pois as distâncias são muito grandes entre as cidades e em parte é um deserto. Eu gostaria muito de ir para o Sul do Chile, pedalar na Carreteira Austral, mas, ainda faz frio no sul e também chove muito. Então fui até a rodoviária comprar uma passagem para Santiago e no caminho teria que tomar uma decisão. Resolvi ir ao Uruguai (Montevidéu) e voltar curtindo o Atlântico. Um dos motivos da minha decisão foi o clima; eu quero sentir um pouco de calor. Embarquei no primeiro ônibus às 19h em Antofagasta e cheguei às 13:30 em Santiago. Às 15h embarquei em Santiago e cheguei às 22:30 em Mendonsa. Às 06:30 saí de Mendonsa e às 05:30 desembarquei em Buenos Aires e por último, saí às 21:30 de Buenos Aires e cheguei às 6:30 em Montevidéu.

Tive um problema com meu cartão de crédito. Quando cheguei em Mendonsa meu dinheiro acabou e não consegui mais sacar. Eu fiquei dois dias pedindo comida para as pessoas que conhecia no caminho e todos me ajudaram muito; acho que comi melhor do que em um dia normal quando ainda tinha dinheiro. Sentado na minha frente no ônibus, uma mãe com sua filhinha de uns 4 anos me deu chocolate; um cara ao lado me convidou para tomar uma cerveja no bar assim que desembarcamos e o dono do bar me deu uma empanada e um pão com queijo e presunto. Depois dizem, que os argentinos não são gente boa. Foi comprovado o contrário e nos momentos que mais precisei, eles me auxiliaram muito.
Cheguei no Uruguai e na fronteira um policial me acordou e disse que tinha que sair para fazer os tramites de entrada no país. Pela primeira vez tive que tirar tudo que eu tinha na bike e abrir pacote por pacote. Que trabalho! Ficaram uns 25min revistando todos os pertences que levava na bike.
Agora vou rumo ao norte e mais uns dias estarei no Brasil. Acho que a primeira coisa que irei fazer será comer um rodízio de pizza.
Abraços