sábado, 28 de agosto de 2010

Cuzco até Uyuni.
Saí de Cuzco com o tempo nublado e frio. Eu já tinha pedalado nesse lugar quando estava a caminho de Nazca. Pedalei os primeiros 140km em dois dias e depois peguei um transporte até Puno, no lago Titicaca. Em Puno fiquei dois dias, uma cidade grande e bem organizada, pelo menos, no centro. Saí de Puno bem cedo, aqui a altitude média é de 3800 metros em relação ao nível do mar, então é melhor sair cedo para conseguir pedalar 80km por dia. É muito difícil respirar por aqui; pedalo 20km e preciso descansar meia hora e no final do dia paro a cada 10km. Eu sempre criticava os jogadores de futebol quando jogavam aqui nas alturas, mas, agora entendo, é realmente difícil. Já na saída de Puno encontrei um casal de Australianos.
Eles estavam pedalando sentido contrário ao meu. Conversamos por alguns minutos, trocamos e-mail e depois nos despedimos. Neste primeiro dia cheguei em Pomata, uma cidade bonita e com uma vista privilegiada para o lago. Fiquei em uma pousada sem água e não consegui tomar um banho; eu precisava demais de um banho! A noite foi terrível; até as 12h tinha um evento político em uma sala ao lado e fizeram muito barulho. Depois aconteceu briga de gato, burro berrando e cachorro latindo. Acordei de mau humor e fui reclamar com o dono da pousada, ele me pediu desculpa pelo barulho do evento e me deu um pão com chá para minimizar o transtorno. Depois saí, pedalei um pouco e me deparei com um ¨rebanho¨ de llamas; um animal muito bonito e diferente, tirei umas fotos e aproveitei para recuperar o ar. Logo cheguei no Desaguadeiro, na fronteira com a Bolívia e eu precisava fazer todos os tramites de visto. Já na chegada tinha um turma de Italianos viajando de moto, pedi para que eles cuidassem da minha bike. Quando chegou a minha vez o guarda disse que eu tinha uma multa para pagar, eu não entendi como alguém que viaja de bike possa ter multa para pagar. Então respondi, eu estou de bike e ela não tem documento e nem placa, como posso ter uma multa? Depois desse mico ele disse que a multa era porque eu estava cinco dias a mais no país do que eu tinha declarado quando entrei. Se eu soubesse disso teria colocado uns 60 dias.

Depois de tudo resolvido, fiquei por aqui mesmo, procurei um lugar para ficar, um lugar que tivesse um chuveiro para tomar banho, não encontrei e passei mais uma noite sem tomar banho, só consegui uma toalha molhada para tirar o excesso de suor. Pelo menos nessa noite dormi bem, acho que dormi umas 11h. Outro dia pedalei 52 km até Tiwanaku e resolvi parar. A falta de ar era grande. Finalmente encontrei um lugar barato com água e tomei banho mas, a água gelada. Aproveitei para organizar as coisas da bike que estavam realmente desorganizadas.
Dei uma volta na cidade, comi pela primeira vez carne de llama; não é muito boa, tem um sabor forte e diferente. Voltei para o hotel e dormi para no outro dia pedalar 75km até La Paz. No caminho até La Paz encontrei um casal de aproximadamente uns 55 anos pedalando. Eu parei mas eles nem deram bola, me deixaram aí parado e sozinho. Continuaram a pedalar como se eu fosse um nativo com uma bicicleta normal ou como se estivesse passeando de carro. Em La Paz é tudo difícil, muitos carros e gente louca, como qualquer cidade grande. Outro dia pedalei 94 km e dormi em um povoado e não consegui descobrir o nome do mesmo, pois, não tinha placa, não achei no Google, então perguntei para um cidadão, mas não anotei e acabei esquecendo. Após muito esforço e com pouco ar chego a Oruro. Fiquei na cidade por dois dias. Ainda não consegui em lugar para lavar minha roupa, estão quase todas sujas e já estou com a mesma alguns dias. Eu resolvi pegar um trem turístico até a cidade de Uyuni. Parece legal e a passagem custou apenas R$ 12,00.
Cheguei a Uyuni as 22h e pedalei até o centro em busca de abrigo. Achei uma raridade, um lugar por R$8,00 com água quente.
Passei uma noite em Uyuni e no outro dia pedalei por 35km em uma estrada de terra até a beira do salar. No outro dia acordei com o frio mais intenso que senti em toda minha vida e muito vento. O lugar é tão maravilhoso que nunca senti nada parecido, pedalei por mais de cinco horas em um lugar tão branco que parecia uma grande folha de papel, eu não conseguia ver nada a não serem as montanhas ao fundo que pareciam estar flutuando devido a imensidão branca. À noite dormi em um abrigo em uma ilha no meio do salar que é exclusiva para ciclistas ou para pessoas que atravessam o salar caminhando. Outro dia pedalei até San Juan do Rosário, foi o dia mais difícil da minha vida em cima de uma bicicleta, eu cheguei a San Juan do Rosário por volta das 17hr, neste dia pedalei nove horas sendo que em 60 km a estrada era de terra como muita areia, muitas vezes era preciso empurrar a bike.

Isso aconteceu há três dias a trás, como não havia internet e não consegui postar antes.
Grande abraço e obrigado pela as mensagens, é bom ler!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Cuzco até Chinta Alta

Fiquei em Cuzco por alguns dias e já não lembrava mais como pedalar. Saí muito mal de Cuzco, meu estômago estava doendo. Esse problema me incomodou por mais uns três dias. Pedalei pouco no primeiro dia, por volta das 12h já parei. Parei em um povoado bem pequeno e antigo. Não tinha nada para fazer então resolvi tomar chá com o dono do alojamento. Ele disse que ia fazer bem para o estômago. No dia seguinte acordei melhor e saí cedo. Pedalei bastante e só parei no meio da tarde. Estava bom para pedalar; uma temperatura agradável durante o dia e a noite frio para dormir. Estou me identificando com o país, as pessoas são receptivas e sempre me cumprimentam na estrada. A paisagem não muda muito, desde La Paz até aqui é praticamente a mesma coisa.




Depois de cinco dias e meio cheguei em Arequipa, a segunda maior cidade do Peru. Não fiquei muito tempo na cidade. Cheguei ao meio dia e parti as sete da manhã do dia seguinte. Só fiz questão de comer uma empanada de marisco. Aqui o cenário mudou completamente, a vegetação deu lugar a muita pedra, areia e poucas plantas. Neste primeiro dia pedalei 145km, muita decida e vento a favor. Cheguei em Pedregal por volta das 16h. As cidades desta parte do Peru parecem um Oásis, tudo seco e de repente verde com muitas plantações .




Hoje tive uma pequena discussão com o dono do restaurante. Ele tentou me cobrar mais caro pela mesma comida que cobrou para o peruano que estava ao lado;ele insistiu em cobrar mais e eu deixei o dinheiro em cima do balcão e dei as costas. É comum tentarem passar a perna nos turistas, mas já estou acostumado e não aceito.Depois saí pedalando e falei sozinho por mais de dez minutos. Depois de mais de seis dias de pedala na beira do Oceano Pacífico cheguei em Nazca. Eu esperava um lugar mais bonito e organizado, mas não é bem assim. Chegando na cidade um sujeito meio suspeito me ofereceu um lugar para ficar na casa dele, achei meio estranho que em tão pouca conversa me oferecera um lugar; não aceitei.


Fiquei em Nazca por dois dias e logo parti para Palpa e no outro dia até Ica. Ica é uma cidade grande e tem de tudo. Quase fui atropelado por um tricículo e por sorte consegui desviar do mesmo mas, bati com a roda trazeira no meio fio. Resumindo, furou o pneu, entortou o aro e estouraram dois raios. No dia seguinte pedalei até Chinta Alta e a bike ia de lado pois, estava toda torta. Depois de pedalar 1452 km de Cuzco até Chinta Alta passando por Arequipa peguei uma carona com um caminhoneiro até próximo a Cuzco. Agora vou pedalar de Cuzco até Urus na Bolivia e depois para o Salar Yuny.

Abraços



quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Lago Titicaca e Machupichu

Após muito frio e chuva na Bolívia, enfim estou no Peru; muito frio a noite mas agradável durante o dia com o sol. Chegando à cidade de Cuzco, comecei a passear na cidade sem minha bicicleta. Uma das coisas ruins de viajar de bike é que sempre precisa estar de olho; assim, deixei-a na hospedagem e saí. Fui pesquisar os preços para fazer uma trilha para Machupichu. Fui informado que não seria possível fazer a trilha inca e para conseguir era preciso reservar no mínimo com dois meses de antecedência. Eu já sabia, mas mesmo assim tentei achar alguma coisa. Esperei mais um dia e com a chegada da Meigui, compramos os ingressos para uma trilha secundária, chamada de Salkantay, normalmente se faz um cinco dias e quatro noites, mas como o tempo estava curto compramos com um dia a menos e em uma parte da trilha fomos de transporte.


Também compramos um tour para o lago Titicaca. Esses dois lugares não são possíveis visitar sem que as passagens sejam compradas em alguma agência. Primeiro fomos para o lago Titicaca, um lugar que parou no tempo; pessoas vivendo como há muito tempo atrás em cima de ilhas construídas para fugir dos espanhóis na época da “colonização”. Ainda vivem nas ilhas, mas não por causa dos espanhóis mas por ser sua principal fonte de renda com o turismo. Segundo os Uruenses não ganham dinheiro diretamente das agências, mas só com a venda de artesanatos. No lago conhecemos a Ilha do Sol e as Ilhas de Urus, feitas a base de uma planta encontrada nas redondezas.


Chegamos em Cuzco e esperamos por mais um dia para iniciar a trilha. A trilha é difícil; mas, muita natureza e paisagens maravilhosas podem ser apreciadas. Algumas partes das paisagens são muito diferentes das que estamos acostumados a ver no Brasil e outras partes são muito parecidas. Muitas montanhas e a mais alta chamada Salkantay, chega a 4600 metros em relação ao nível do mar. Na beira da estrada haviam muito morangos, eram bem menores dos que encontramos no mercado, mas muito saborosos. No último dia chegamos em Machupichu; um lugar mágico e misterioso, até hoje existem muitas dúvidas de como foi construído e também sobre a cultura, desde nomes de pessoas até de rituais.


Existe um frase que Che Guevara fala em seu filme (O Diário de Uma Motocicleta), assim que ele chega no topo e olha para a cidade perdida, fala:_ Como pode uma civilização trocar isso por isso? E, aí mostra uma foto da linda cidade de Machupichu e depois uma cidade contemporânea com muita sujeira e pessoas vivendo em um lugar desumano. Nos faz pensar.







Em qual você prefere viver?
Chegamos em Cuzco por volta da 24:00. No outro dia levei a Meigui para o Aeroporto e comecei a arrumar tudo para sair. Fiquei mais um dia em Cuzco, precisava lavar a roupa e eu não estava muito bem, acho que comi alguma coisa que não fez bem.Abraços e até breve