domingo, 12 de setembro de 2010

Uruguai

Tomei aquele banho em San Juan do Rosário e depois dormi muito. Acho que não existe nada melhor que depois de alguns dias sem tomar banho, reencontrar água quente e uma boa cama. No outro dia acordei um pouco tarde, saí por volta das 10h com destino a um povoado distante de água e de tudo. Por volta do km 65 quebrou o aro trazeiro da bike; acredito que o mecânico apertou muito os raios e a pressão estourou o aro. Eu estava no meio do deserto, aproximadamente uns 30km do povoado mais próximo e uns 50km da divisa com o território Chileno. Fiquei esperando por quase 5h por uma carona, até que passou uma S10 que iria até Calaman, a primeira cidade no território Chileno. Não pensei duas vezes e embarquei nessa.

Ele me deixou a uns 5 km do centro e o restante fui empurrando. Achei uma oficina de bike, deixei a bicicleta e fui até a igreja pedir abrigo. Conversando com o bispo, ele disse que não teria lugar pra eu ficar na igreja, mas, que na casa das freiras haveria sim. Não é exatamente na casa das freiras, mas sim em uma área de eventos que tem alguns quartos para visitas. Beleza! Consegui uma autorização com o bispo para um dia e mais tarde, depois de uma conversa com as freiras, mais um dia. Me receberam muito bem! Ganhei comida, um pouco de chocolate e folhas de coca para a viagem.


Depois de dois dias em Calama fui para San Pedro de Atacama. Foi o dia mais perigoso da viagem para pedalar. A estrada era ótima, não tinha muita subida, mas, um vento muito forte e eu não conseguia manter a bike no acostamento. Repentinamente vinha um vento lateral, me levava para o meio da estrada e as vezes até o acostamento do outro lado que me obrigava a parar. Bom era quando o vento soprava a favor e eu podia viajar sem pedalar. Teve uma reta que fiquei por uns 15min só sentado sem pedalar, não podendo seguir viagem. O vento realmente era forte e foi difícil ficar parado.
Chegando em San Pedro de Atacama, parei para conversar com um caminhoneiro e lhe falei que havia perdido meus óculos a alguns dias e o vento com areia dificultavam a minha visão. Sem falar nada ele entrou na cabine do caminhão e voltou com seus óculos na mão e me disse: - Este é um presente para você. Que gentileza, não vou esquecer o que esse motorista fez por mim.


Passei mais dois dias aqui em San Pedro de Atacama e encontrei uma galera legal na pousada. É um lugar bem alternativo; as pessoas usam muito a bike como meio de transporte e parecem ter uma vida muito simples e feliz. A noite saí com a galera da pousada, fomos ouvir e apreciar música típica chilena e tomar vinho. Saindo de Atacama eu só pensava em uma carona até Calama, para não precisar encarar o vento de alguns dias atrás, só que dessa vez contra, o que dificultava ainda mais a viagem. Não deu outra, um cidadão atendeu meu pedido e me levou até uns 35 km depois de Calama. Em seguida pedalei mais 101km até Antofagasta. Muita descida o que facilitou o percurso desse trajeto.
Eu pensei muito em relação ao caminho de volta para casa. Conversei com alguns argentinos e recomendaram não passar pelo norte da Argentina pois as distâncias são muito grandes entre as cidades e em parte é um deserto. Eu gostaria muito de ir para o Sul do Chile, pedalar na Carreteira Austral, mas, ainda faz frio no sul e também chove muito. Então fui até a rodoviária comprar uma passagem para Santiago e no caminho teria que tomar uma decisão. Resolvi ir ao Uruguai (Montevidéu) e voltar curtindo o Atlântico. Um dos motivos da minha decisão foi o clima; eu quero sentir um pouco de calor. Embarquei no primeiro ônibus às 19h em Antofagasta e cheguei às 13:30 em Santiago. Às 15h embarquei em Santiago e cheguei às 22:30 em Mendonsa. Às 06:30 saí de Mendonsa e às 05:30 desembarquei em Buenos Aires e por último, saí às 21:30 de Buenos Aires e cheguei às 6:30 em Montevidéu.

Tive um problema com meu cartão de crédito. Quando cheguei em Mendonsa meu dinheiro acabou e não consegui mais sacar. Eu fiquei dois dias pedindo comida para as pessoas que conhecia no caminho e todos me ajudaram muito; acho que comi melhor do que em um dia normal quando ainda tinha dinheiro. Sentado na minha frente no ônibus, uma mãe com sua filhinha de uns 4 anos me deu chocolate; um cara ao lado me convidou para tomar uma cerveja no bar assim que desembarcamos e o dono do bar me deu uma empanada e um pão com queijo e presunto. Depois dizem, que os argentinos não são gente boa. Foi comprovado o contrário e nos momentos que mais precisei, eles me auxiliaram muito.
Cheguei no Uruguai e na fronteira um policial me acordou e disse que tinha que sair para fazer os tramites de entrada no país. Pela primeira vez tive que tirar tudo que eu tinha na bike e abrir pacote por pacote. Que trabalho! Ficaram uns 25min revistando todos os pertences que levava na bike.
Agora vou rumo ao norte e mais uns dias estarei no Brasil. Acho que a primeira coisa que irei fazer será comer um rodízio de pizza.
Abraços

3 comentários:

  1. cara muito massa,, parabens,, um dia quem sabe farei uma dessa,,

    vlw,, boa sorte!!!

    []s mildo

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  2. Bom retorno primão
    abraço de Alan e Familia...

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